Economia circular: a nova estratégia de descarbonização do setor automotivo

Categoria: Linha V, Programa Mover

Uso de biocombustíveis na propulsão veicular e incremento da reciclabilidade de componentes e materiais no processo industrial podem reduzir pegada de carbono

A economia circular é uma estratégia de integração do desenvolvimento econômico ao uso racional de recursos naturais, por meio de processos que priorizam insumos e matéria-prima recicláveis e renováveis. No setor automotivo, a incorporação desses princípios está impactando todas as etapas do ciclo de vida dos veículos, do projeto até o descarte, passando pela fabricação e utilização.

Um veículo comum é composto por mais mil peças, formando um universo de 30 mil componentes distintos, constituídos essencialmente por materiais plásticos, metálicos e tecidos. Ao final do seu ciclo de vida, tais itens podem ser removidos e reciclados para cumprirem novamente a função original ou serem usados em outro processo ou produto. 

A estratégia vem ganhando força e pode permear toda a cadeia automotiva, alcançando fabricantes de autopeças, acessórios e pneus. “É fundamental o aproveitamento dos componentes e acessórios de forma cíclica, tendo como consequência positiva a redução da demanda de recursos naturais por meio da reutilização de materiais”, explica o professor de engenharia química do Centro Universitário Fundação Educacional Inaciana (FEI) e membro da coordenação técnica da Linha V do programa Mover, Ronaldo Goncalves dos Santos.

Promovendo a redução de custos e o aumento da vida útil dos produtos, a economia circular traz benefícios econômicos e ambientais. O caminho para processos cada vez mais sustentáveis e eficientes abre oportunidades econômicas com adição de valor aos produtos, ao mesmo tempo que permite a regeneração de sistemas naturais.  A economia circular contribui para um ciclo de desenvolvimento sustentável, com forte apelo à inovação e tecnologia avançada, criando oportunidades para colaboração e crescimento sustentável a longo prazo.

Descarbonização

A economia circular é, sobretudo, uma estratégia de descarbonização da mobilidade e de processos industriais. Com essa visão, a Stellantis, líder do setor automotivo brasileiro que reúne marcas como Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën, está investindo em processos de manufaturas com menor demanda de matérias-primas e energia.

“O plano de descarbonização prevê a descarbonização completa, tornando a companhia carbono net zero até 2038, com redução de 50% já em 2030. Para tanto, estamos agindo em diversas frentes e não apenas nas emissões geradas pelo uso do automóvel”, explica o gerente de Regulação e Compliance da Stellantis, Leonardo Amaral.

Toda a cadeia produtiva emite CO², desde a extração de matérias-primas, seu processamento, a produção de componentes e a manufatura do veículo. Tais emissões devem ser reduzidas e mitigadas.  Cada etapa do processo exige uma estratégia de redução de emissões.

A empresa constituiu uma unidade de Economia Circular, com a missão de desenvolver um novo conceito de ciclo de vida do produto, estendendo o ciclo de vida para boa parte dos componentes integrantes de um automóvel.

Trata-se de uma evolução conceitual da visão do “berço ao túmulo” para o ciclo mais amplo do “berço ao berço”. O principal objetivo é prolongar a vida útil dos componentes, garantindo sua qualidade e durabilidade e, ao mesmo tempo, devolvendo materiais e veículos em fim de ciclo de vida novamente ao ciclo de manufatura. A estratégia se materializa na prática dos 4Rs – Reman, Repair, Reuse and Recycle (Remanufaturar, Reparar, Reutilizar e Reciclar).

Estima-se que, com iniciativas focadas nas estratégias dos 4Rs, seja possível destinar praticamente 100% do veículo e seus componentes para remanufatura, reutilização ou reciclagem. O impacto de iniciativas como estas podem chegar a uma redução de 80% de demanda de materiais, desde a extração de matérias-primas, como minérios, derivados de petróleo, metais e mais uma extensa lista de outros materiais, além da redução de cerca de 50% no consumo de energia empregada na manufatura, quando comparado com a produção de peças e componentes novos.

Desafios 

O desenvolvimento dessa estratégia envolve muitos desafios, como aumento significativo de investimentos, volumes e expansão. Leonardo Amaral destaca que é necessário investir em inovação e requalificação constantes para aplicar novas tecnologias que possibilitem a implantação de processos complexos de remanufatura, reciclagem e tratamento de materiais, como os componentes das baterias, por exemplo, que tendem a evoluir exponencialmente nos próximos anos. Além disso, é preciso envolver toda a cadeia de suprimentos, fornecedores e fabricantes de peças e componentes para que todos os envolvidos participem do processo de evolução industrial. 

“Do design à produção, até os serviços de pós-venda, os negócios precisam urgentemente se tornar mais sustentáveis e a economia circular abre um enorme campo de oportunidades”, enfatiza Leonardo Amaral.

Esse é um movimento global da Stellantis. No ano passado, a empresa anunciou a implantação de seu principal Centro de Economia Circular, no Complexo Mirafiori, na Itália. Esse centro apoiará o modelo de negócios ‘do berço ao berço’ em toda a Europa, ao abrigar atividades de recondicionamento de veículos, desmontagem de veículos e remanufatura de peças, com o escopo definido para expandir-se ainda mais globalmente.

No Brasil, o programa SUSTAINera recentemente lançado, já remanufatura peças importantes como motores de partida e alternadores dos veículos das marcas da Stellantis, que são distribuídas e vendidas em cerca de mil concessionárias locais.

SOBRE O PROGRAMA PRIORITÁRIO

O Programa Prioritário Biocombustíveis, Segurança e Propulsão Veicular, do programa Mover, desenvolve soluções em mobilidade com foco na eletrificação do powertrain veicular para a alta eficiência energética, utilização de biocombustíveis para a geração de energia e a inovação de sistemas de segurança (ativa e passiva) para a preservação da integridade dos passageiros. 

A iniciativa está alinhada ao processo de reestruturação e modernização do setor automotivo em um contexto de transformações tecnológicas, ambientais e sociais. O objetivo é estimular a pesquisa e desenvolvimento de tecnologias automotivas nacionais para aumentar a competitividade por meio de iniciativas colaborativas.

O foco é no desenvolvimento de uma economia circular no setor automotivo, reduzindo o impacto ambiental e promovendo uma abordagem mais sustentável para a produção industrial. 

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