Uso de tags de identificação é aposta para evoluir a gestão logística e a conectividade automotiva

Categoria: Linha VI

O uso de tags para pagamento de pedágios, estacionamentos e até sistemas drive-thru não é novidade no Brasil. Apesar disso, o potencial de aplicabilidade destes dispositivos nas indústrias ainda é pouco explorado. Visando uma nova abordagem que fortalecesse o setor automotivo brasileiro, nasceu o projeto “Rastreabilidade Automotiva Total”, que propõe uma evolução no uso das tags, para que passem a monitorar cada componente utilizado nos veículos, desde sua produção até o final de sua vida útil, facilitando, inclusive, sua destinação à programas de logística reversa.

Apoiado pela Linha VI – Conectividade Veicular, do programa Mover (Mobilidade Verde e Inovação), sob coordenação da Fundação de Apoio da UFMG (Fundep), o projeto de PD&I é executado pelo Centro de Pesquisas Avançadas Wernher von Braun com um aporte total de R$ 2,8 milhões.

A iniciativa surgiu em um momento em que a complexidade das cadeias produtivas estava crescendo, aumentando a necessidade de garantir a segurança dos dados e a integridade dos veículos. Dario Sassi Thober, fundador e presidente do Centro Wernher von Braun , destaca a importância da iniciativa: “O futuro da mobilidade está na conectividade e na capacidade de monitorar cada etapa do processo de produção e pós-venda”. 

Com o objetivo de aumentar a confiabilidade e a eficiência no setor, os pesquisadores buscaram uma solução que assegurasse a identificação e o rastreamento de veículos e componentes, minimizando riscos de perdas e melhorando a gestão logística. Ao pesquisar as tags de rastreabilidade, notou-se um grande potencial destes dispositivos eletrônicos na identificação e no monitoramento de veículos e componentes ao longo de sua vida útil.  

Os itens utilizam tecnologia de identificação por radiofrequência (RFID) ou outros sistemas de comunicação, permitindo uma interação eficiente com leitores especializados. Desta forma, as tags armazenam informações essenciais sobre a peça ou veículo ao qual estão acopladas, como número de série, data de fabricação, histórico de manutenção e localização atual e, quando ativadas por um leitor, emitem um sinal que transmite essas informações em tempo real.

Elas podem ser acopladas de várias maneiras, dependendo do tipo de componente e da aplicação. Podem ser inseridas em peças de forma indelével durante a fabricação, coladas ou anexadas como etiquetas, permitindo a aplicação em uma ampla gama de situações, desde componentes pequenos até veículos inteiros.

Essas aplicações podem resultar em uma evolução sem precedentes na otimização de processos logísticos no setor produtivo. Ao incorporar uma tag de identificação nas peças durante a fase de manufatura, é possível utilizar o conceito de dispositivos IoT (Internet das Coisas) ao longo de toda a supply chain da peça e do veículo a ser montado. As tags  identificam veículos e acompanham componentes individuais ao longo de sua vida útil, desde a fabricação até o descarte.

Dario Sassi Thober

Dario Sassi ThoberFundador e presidente do Centro Wernher von Braun

Além disso, a mesma peça pode ser identificada nas rodovias e em diversas outras aplicações em smart cities e logística, ampliando o alcance e a funcionalidade da tecnologia. O fundador do centro de pesquisas explica que “a funcionalidade melhora a eficiência operacional e garante maior segurança e integridade dos dados. A rastreabilidade se estende à manutenção preditiva, permitindo que as empresas identifiquem problemas rapidamente antes que se tornem críticos. Isso resulta em uma operação mais eficiente e confiável”. 

O projeto de “Rastreabilidade Automotiva Total” é estruturado em várias fases, cada uma com metas claras. Durante a etapa inicial, que ocorreu de julho a setembro de 2024, a equipe preparou a documentação e definiu os requisitos necessários. Thober destaca que um bom planejamento “evita problemas na execução”, e, por isso, os alicerces estabelecidos nessa etapa foram cruciais para o sucesso do projeto. Em setembro de 2024, foi realizado o evento de kick off, onde todos os stakeholders se reuniram para discutir objetivos e expectativas. Esse momento favoreceu a interação e a troca de ideias, ajudando a alinhar visões e prioridades. 

Equipe do Centro Wernher von Braun em visita técnica
Equipe do Centro Wernher von Braun em visita técnica

Atualmente, a iniciativa se encontra na fase de desenvolvimento, que começou em outubro de 2024 e tem previsão de encerramento em agosto de 2025. Nesse período, as soluções estão sendo implementadas em um ambiente controlado, com apoio de empresas parceiras, como o Grupo Piccin, que é reconhecido por sua vasta linha de equipamentos para o campo.  

“Estamos apenas começando a entender o verdadeiro potencial dessa tecnologia em nosso setor. As expectativas são altas para os próximos passos, conforme as soluções desenvolvidas forem se consolidando como referência no mercado,” afirma Douglas Fahl, Head de Inovação do Grupo Piccin.  

De setembro de 2025 até maio de 2026, será a fase de teste e validação, que será dedicada a avaliações rigorosas das soluções para medir sua eficácia, buscando garantir que funcionem em todas as condições. Finalmente, em junho de 2026, ao término do projeto, as soluções estarão disponíveis no mercado. “O que estamos fazendo aqui pode servir de modelo para outras indústrias. A chave é manter a colaboração e buscar sempre a excelência”, conclui Thober.  

A experiência da Piccin  

O Grupo Piccin, uma das empresas que se uniu ao projeto, começou sua jornada com a iniciativa por meio de suas conexões com a Fundação de Apoio da UFMG (Fundep). O Head de Inovação da Piccin, Douglas Fahl, destaca: “Quando soubemos do Projeto de Rastreabilidade Total, percebemos que era uma chance não apenas de melhorar nossas operações, mas de contribuir para algo maior para toda a indústria”.  

Assim que a Piccin se integrou a iniciativa, as vantagens logo se tornaram evidentes. A empresa viu a possibilidade de aplicar as tags para melhorar o controle de inventário e logística, o que contribuiu para uma nova abordagem de gestão. Com o uso dos dispositivos, a Piccin obteve uma visão mais clara do seu inventário e conseguiu identificar rapidamente problemas de maneira eficaz.

“Desde que começamos a utilizar as tags, conseguimos rastrear componentes e reduzir significativamente as perdas de material. Isso não é apenas uma economia; é uma nova forma de operar,” afirma Fahl.  

Dessa forma, a Piccin tem colhido os frutos de uma gestão mais eficiente e contornado desafios de forma inovadora dentro do setor. “Com a tag, conseguimos rastrear todo o histórico do nosso produto, desde a fabricação das peças até a entrega. Isso não só aumenta nossa credibilidade, como também nos ajuda a resolver rapidamente eventuais problemas de logística que antes teríamos levado mais tempo para identificar e solucionar,” explica o Head de Inovação da Piccin.  

Fahl também destaca que o uso das tags ajuda a monitorar a produtividade de toda a cadeia, identificando quanto tempo cada peça foi trabalhada em cada uma das fases da linha de produção, além de fornecer informações sobre movimentações de estoque, reduzindo trabalhos manuais e eventuais erros na localização dos materiais.  

Estamos explorando a variabilidade das opções de tags de rastreamento para determinar a melhor solução. Atualmente, estamos na fase de testar algumas dessas tags em materiais reais. Por exemplo, temos tags específicas para componentes metálicos. Estamos identificando quais componentes receberão estas tags e em quais pontos do processo produtivo elas serão inseridas. O objetivo é confirmar se as tags selecionadas são adequadas ao nosso processo produtivo e definir o ponto ideal para sua aplicação.

Douglas FahlHead de Inovação da Piccin

Após os resultados alcançados, os planos do projeto incluem a criação de um modelo de operação que possa ser replicado em outras indústrias, permitindo que as práticas desenvolvidas na Piccin se tornem padrões estabelecidos. A expectativa é que, ao final do projeto, muitas empresas do setor automobilístico e além adotem soluções semelhantes, reforçando a importância da conectividade. 

Participantes do Projeto 

O projeto executado pelo Centro de Pesquisas Avançadas Wernher von Braun tem a participação de 11 empresas: Stellantis, Auto Adesivos Paraná (BTG), CNH Industrial Latin America, Piccin Equipamentos Agrícolas, PSA Peugeot Citroen, Tecsidel do Brasil, Mncal – Matão Peças Componentes Agrícolas, PSCA – Prima Sole Componentes Automotivos, Motorola Mobility, Acura Technologies e Sem Parar Instituição de Pagamento. 

Sobre a Linha VI – Conectividade Veicular

A Linha VI – Conectividade Veicular busca promover a pesquisa, desenvolvimento e a inovação (PD&I) em conectividade veicular, contribuindo para o desenvolvimento industrial e tecnológico do setor automotivo e sua cadeia de produção, promovendo impacto e abrangência nacional. 

A iniciativa estimula a produção de tecnologias em quatro principais áreas temáticas: Conectividade: Meio ambiente e Descarbonização; Conectividade dos veículos com o ambiente externo; Tecnologia da Privacidade e Segurança de Dados; e Serviços, Diagnóstico e Manutenção Preditiva de Veículos. Todas essas temáticas serão trabalhadas em 3 eixos: Projetos de PD&I; Programa de Aprendizado Federado; e Desenvolvimento de Competências.

Liderada pela Fundep, a Linha de Conectividade Veicular tem coordenação técnica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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