Trabalho de conclusão de curso avaliou os impactos da implementação de soluções tecnológicas nas ferramentarias participantes da iniciativa
Com o objetivo de avaliar o impacto da transição tecnológica nas ferramentarias, o aluno do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Vinícius Morais, desenvolveu o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) “Uso de Internet das Coisas para otimizar a produtividade em ferramentarias”. Sob a orientação do professor titular do Departamento de Física da UFMG Eduardo Valadares, a pesquisa foi fundamentada em estudos de caso envolvendo a implementação de soluções baseadas em Internet das Coisas (IoT) e sistemas de monitoramento e controle em duas ferramentarias – Stampway e Union Moldes, participantes do Rota Challenge, uma iniciativa da Linha IV – Ferramentarias Brasileiras Mais Competitivas do programa Rota 2030, coordenada pela Fundep.
O pesquisador participou como ouvinte das reuniões dos grupos de trabalho no período de agosto de 2022 até julho de 2023. Além disso, ele contribuiu com as startups I- SENSI e Vitau Automation no levantamento e diagnóstico dos principais gargalos encontrados nas ferramentarias, por meio de entrevistas com funcionários das fábricas. Segundo Morais, essa aproximação proporcionou um ambiente de aprendizado e troca de conhecimentos, sendo fundamental para orientar o desenvolvimento das soluções propostas às empresas.
“Ao participar da implementação dos projetos-piloto e acompanhar de perto a adoção das tecnologias, pude levantar informações valiosas sobre a eficácia das soluções propostas, bem como feedbacks e insights dos profissionais da ferramentaria, enriquecendo o conhecimento acadêmico sobre o setor e suas demandas”, diz.
O professor Eduardo Valadares avalia que o trabalho é um exemplo de como a sinergia entre universidade e empresas pode resultar em pesquisas e desenvolvimento tecnológico para solucionar desafios reais do setor. “A participação do Vinícius no Rota Challenge foi uma oportunidade para a academia atuar ativamente no processo de inovação. O papel dele foi fundamental na análise aprofundada dos processos produtivos e gerenciais e na identificação da raiz de vários problemas que impactavam diretamente os resultados das empresas.”
Desafios e soluções
Alguns dos problemas apresentados por ambas as ferramentarias analisadas estão relacionados ao monitoramento da cadeia de produção. O estudante também salienta que “as áreas responsáveis por etapas de produção afetadas não ficam cientes dos problemas recorrentes e, por falta de informações confiáveis, não têm como corrigi-los, acarretando em perda de produtividade.”
A I-SENSI atuou diretamente na ferramentaria Stampway, projetando uma solução para monitorar a cadeia de fornecimento de suprimentos. Implementou, ainda, um sistema de arquitetura hardware e nuvem capaz de gerar dados suficientes para a tomada de decisões. Como forma de garantir a adoção de soluções eficazes, demonstrando que a tecnologia é uma aliada e não uma concorrente da força de trabalho, toda a equipe operacional da Stampway foi envolvida no trabalho, desde o desenho do projeto até a criação dos dashboards. E o processo de implantação foi guiado por cronogramas e indicadores, avaliados periodicamente. Os resultados mostram que a combinação das soluções da I-SENSI integradas ao sistema resultou em uma gestão mais eficiente e transparente de todo o processo produtivo, desde a saída da ferramentaria até a chegada ao fornecedor.
Já a Vitau Automation dedicou-se a buscar meios para elevar a produtividade da Union Moldes. A solução encontrada foi um software para o monitoramento da eficiência e produtividade das máquinas, permitindo acompanhar falhas e paradas e gerar um registro de informações detalhadas para a tomada de decisões, visando à solução dos problemas. O uso dos registros automatizados proporciona uma série de benefícios, como a simplificação do trabalho dos ferramenteiros e a facilitação da análise, gestão e controle das atividades. Além das informações detalhadas dos motivos das interrupções, da identificação de gargalos e da implementação de ações corretivas adequadas, a plataforma da Vitau inclui um checklist de procedimentos de padronização e monitoramento das atividades realizadas. Esta funcionalidade visa prevenir falhas e aumentar a eficiência operacional, na medida em que os ferramenteiros têm acesso a diretrizes claras e atualizadas, podendo garantir que as melhores práticas sejam seguidas.
Guia para transformação digital
De acordo com o autor do TCC, a maioria das dificuldades identificadas se deve à falta de conhecimento sobre os benefícios da transformação digital e de informações sobre como implementar soluções tecnológicas eficientes, lacunas que comprometem o processo de modernização das ferramentarias. Diante desse cenário, o trabalho de Morais gera um protocolo para outras empresas que desejam caminhar rumo à transformação digital e alcançar maior eficiência, produtividade e competitividade no mercado. “A intenção é que o trabalho funcione como um guia, contemplando, além das informações sobre transformação digital e indústria 4.0, os passos necessários para a implementação bem-sucedida das tecnologias IoT nas ferramentarias que enfrentam desafios semelhantes às empresas analisadas”, afirma.
O guia também contribui para conectar os problemas de mercado à academia ao oferecer material orientativo baseado em experiências reais do setor. “As universidades podem contribuir de várias formas para tornar a indústria brasileira automotiva mais competitiva. Por exemplo, podem desenvolver pesquisas avançadas em áreas-chave”, diz o pesquisador.
Um dos criadores da primeira incubadora de empresas da UFMG, atualmente chamada de Inova UFMG, o professor Eduardo Valadares afirma que, desde o início, chamava a sua atenção o enorme distanciamento entre as iniciativas geradas pelas startups e os trabalhos conduzidos dentro da universidade. “O trabalho do Vinícius demonstra uma mudança nesse mindset.
Estamos vivendo um momento em que a universidade está despertando para a importância de trabalhos como o dele. Precisamos evoluir um pouco mais nisso e fazer com que a academia seja inserida no processo de inovação de forma mais orgânica. Esse é o único jeito de tornar nosso país mais competitivo e moderno”, pondera.
Rota Challenge
A transformação digital é caminho obrigatório para uma indústria automotiva mais competitiva, e o Rota Challenge atua como agente dessa transformação, contribuindo para a construção de uma cultura cada vez mais inovadora e tecnológica no setor ferramental. O objetivo é facilitar a conexão entre indústria de ferramental e startups de todo Brasil, promovendo a inovação e a solução de desafios tecnológicos por meio do intercâmbio empreendedor na cadeia automotiva, no âmbito das metas estabelecidas no Programa e Projeto Prioritário Rota 2030 – Linha IV.
SOBRE A LINHA IV DO ROTA 2030
O setor ferramenteiro é um dos grandes destaques do programa Rota 2030. Coordenada pela Fundação de Apoio da UFMG (Fundep), com coordenação técnica do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), a Linha IV – Ferramentarias Brasileiras Mais Competitivas tem o objetivo é solucionar as dificuldades de ferramentarias com baixa produtividade e defasagem tecnológica, capacitando a cadeia de ferramental de produtos automotivos para atingir competitividade em nível mundial.
A partir da aliança entre os principais atores que representam o conhecimento do setor (ferramentarias, montadoras, Instituições de Ciência e Tecnologia – ICTs, startups e entidades representativas), serão habilitadas as competências necessárias para capacitar a cadeia ferramental brasileira.
A proposta é oferecer soluções capazes de integrar a cadeia tecnológica de ferramental, por meio do aumento da produtividade e da competitividade. A Linha IV vem atuando em diversos eixos para alcançar os resultados esperados e promover a transformação necessária, tendo como indicadores a elevação do nível de qualidade e de confiabilidade dos produtos e o aumento do grau de prontidão e de maturidade tecnológica e organizacional, caracterizados pela percepção dos requisitos e restrições impostos pelo avanço da indústria 4.0.
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