Setor automotivo pretende reduzir a dependência da importação de componentes
Um dos principais desafios enfrentados pelo setor automotivo é nacionalizar o desenvolvimento de tecnologias e reduzir a importação de componentes, incluindo dispositivos e sensores para uso em segurança veicular. Para obter uma solução tecnológica nacional nessa área, foi criado o “Projeto, Implementação e Testes de Componentes e Dispositivos para o Desenvolvimento de Sistemas de Assistência à Condução (SEGCOM)”, em execução na Linha V – Biocombustíveis, Segurança e Propulsão Veicular, do programa Mover, coordenada pela Fundação de Apoio da UFMG (Fundep).
O projeto de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) é uma parceria entre a Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e empresas automobilísticas e de componentes eletrônicos (Intelbras, BlueGrid, Omnisys e Tecsys).
“No Brasil, não há fornecedores locais para radares automotivos, tornando a indústria nacional altamente dependente de empresas internacionais. A escassez de componentes eletroeletrônicos ainda é um problema enfrentado pelas montadoras. Por esse motivo, muitas delas precisaram interromper temporariamente suas linhas de montagem e tiveram prejuízos”, diz Evandro Leonardo Silva Teixeira, coordenador associado do projeto e professor da UnB.
O projeto SEGCOM busca oferecer funções de assistência ao condutor conhecidas como Advanced Driver Assistance System (ADAS), por meio do desenvolvimento e fabricação de um sensor radar automotivo, dotado de um sistema de câmeras com capacidade de operação dinâmica, percepção 3D e profundidade, além de atuadores de controle de velocidade. O equipamento aumenta a percepção do ambiente e das cenas de trânsito.
Demanda do mercado
Apesar da importância crescente de radares automotivos no registro de distância, velocidade e detecção de objetos em rota, ainda não há empresas brasileiras atuando no segmento, demandando importação. O mesmo ocorre com os dispositivos de imagem para as funções ADAS, contexto que não apenas limita a autonomia do setor automotivo, mas também deixa a indústria brasileira vulnerável a qualquer tipo de intercorrências no mercado internacional.
Uma das propostas do projeto SEGCOM é implementar um sistema de visão computacional utilizando câmeras da empresa brasileira Intelbras. As funções ADAS serão desenvolvidas considerando inicialmente um radar automotivo comercial e câmeras de fornecedores nacionais. Também está prevista a utilização de um simulador de dinâmica veicular da UnB nos trabalhos de desenvolvimento, para se obter a percepção do condutor em ambiente controlado.
Dessa forma, a iniciativa busca soluções nacionais para o monitoramento de cenas de trânsito e vai habilitar outras empresas brasileiras como fornecedoras da tecnologia, fortalecendo toda a cadeia produtiva nacional, conforme uma das metas do programa nacional de Mobilidade Verde e Inovação (Mover).
“A nacionalização de componentes eletrônicos desempenha um papel fundamental na economia de um país. Ao desenvolver e produzir os itens internamente, uma nação reduz sua dependência de importações, fortalece sua indústria e cria empregos locais. Além disso, a nacionalização pode levar a uma maior segurança e soberania tecnológica, com menor vulnerabilidade a interrupções no fornecimento externo de componentes”, explica Teixeira.
Desenvolvimento das funções ADAS
O desenvolvimento tecnológico nacional das funções ADAS ainda está no início. Na etapa atual, as montadoras importam soluções e as adaptam às condições nacionais.
“No ambiente acadêmico, há trabalhos sendo feitos, mas raramente se transformam em uma solução com potencial para ser aplicada na indústria nacional. Nosso objetivo é transformar o conhecimento em tecnologia viável. Além da nacionalização de sensores, o projeto busca estreitar a distância entre o desenvolvimento acadêmico científico e a aplicação da solução na indústria automotiva”, observa Bruno Augusto Angélico, coordenador associado do projeto SEGCOM.
O objetivo é desenvolver um radar automotivo para atender à demanda de montadoras nacionais e da América Latina e de um sistema de visão computacional com inteligência para aplicações ADAS. Além disso, funções como Controle de Cruzeiro Adaptativo (ACC), Sistema de Frenagem de Emergência Avançado (AEBS) e Alerta de Mudança de Faixa (LDW) serão aprimoradas e adaptadas à realidade nacional.
Plano de trabalho
As etapas do Projeto, implementação e testes de componentes e dispositivos para o desenvolvimento de sistemas de assistência à condução (SEGCOM), são:
- Mobilização da infraestrutura e equipe: mobilização de bolsistas e pesquisadores para comporem a equipe do projeto, além da compra de equipamentos e materiais.
- Levantamento de requisitos do projeto: análise das características básicas necessárias para a construção do radar e adaptação da câmera para os sensores, como distância de detecção, frequência de operação, frenagem de emergência e aviso de permanência em faixa. Além disso, também faz parte desta etapa um estudo de como adaptar esses equipamentos para as funções ADAS.
- Definição da arquitetura de componentes da plataforma: construção de uma modelagem matemática, ou seja, um conjunto de equações sobre o comportamento do carro em uma determinada pista e velocidade. Isso permite que sejam realizadas simulações computacionais. Além disso, há a produção de um relatório que deve ser entregue à Fundep semestralmente.
Expectativas e resultados
Bruno Angélico acredita que um dos maiores desafios enfrentados pela indústria brasileira é o fato de as sedes das grandes montadoras serem no exterior. “O Brasil ainda não tem domínio sobre o desenvolvimento de sensores automotivos para aplicações em sistemas ADAS, por exemplo”, diz.
“Ao final do projeto, em 2026, espero que possamos entregar um protótipo de radar automotivo e um protótipo de sistema de câmera automotiva para aplicações ADAS, ambos validados em testes Hardware-In-the-Loop (HIL), que são como simulações computacionais, e também validar esses protótipos em um simulador veicular”, completa o coordenador.
SOBRE O PROGRAMA PRIORITÁRIO
O Programa Prioritário Biocombustíveis, Segurança e Propulsão Veicular, do programa Mover, desenvolve soluções em mobilidade com foco na eletrificação do powertrain veicular para a alta eficiência energética, utilização de biocombustíveis para a geração de energia e a inovação de sistemas de segurança (ativa e passiva) para a preservação da integridade dos passageiros.
A iniciativa está alinhada ao processo de reestruturação e modernização do setor automotivo em um contexto de transformações tecnológicas, ambientais e sociais. O objetivo é estimular a pesquisa e desenvolvimento de tecnologias automotivas nacionais para aumentar a competitividade por meio de iniciativas colaborativas.
O foco é no desenvolvimento de uma economia circular no setor automotivo, reduzindo o impacto ambiental e promovendo uma abordagem mais sustentável para a produção industrial.
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