Sistema com sensor radar detecta presença de motocicletas no ponto cego de veículos
Com o aumento da frota de motocicletas, a participação destes veículos nos acidentes de trânsito também vem crescendo. Em 2020, 51,9% das indenizações por morte pagas pelo seguro Dpvat foram para familiares de motociclistas vítimas de acidentes fatais. A questão motivou o desenvolvimento do projeto “Detecção de motocicletas no ponto cego do veículo utilizando sensor radar” no âmbito da Linha V do Rota 2030 – Biocombustíveis, Segurança Veicular e Propulsão Alternativa à Combustão, coordenada pela Fundep. O trabalho foi realizado entre dezembro de 2020 e março deste ano.
A pesquisa foi conduzida pelo Centro Universitário Facens, em parceria com o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), o Technische Hochschule Ingolstadt (THI), da Alemanha, e as empresas Bosch e Stellantis.
O coordenador do projeto e professor da Facens e do ITA, Lester de Abreu Faria, relata que a meta foi desenvolver e aperfeiçoar um sistema capaz de detectar motocicletas e outros entes no cone cego dos veículos. O ponto de partida foi a mudança de algoritmos do componente radar off-road da Bosch, item fundamental para que a situação seja identificada.
Etapas de desenvolvimento
Diversas frentes de trabalho foram envolvidas no desenvolvimento do projeto. Na parte técnica, inicialmente foi realizado um estudo profundo do comportamento das ondas milimétricas do radar ao incidir em veículos de duas rodas e obter a assinatura de radar do alvo. Segundo Faria, essa identificação permite o entendimento das possíveis falhas de percepção em situações de risco de colisão, levando à descoberta dos limites de detecção de motocicletas para radares de canto (corner-radar) comerciais. “O processo permitiu adaptarmos o equipamento para o ambiente urbano e, por meio de inteligência artificial, aperfeiçoarmos sua capacidade de identificar motos, mesmo em condições adversas”, explica.
Paralelamente, os pesquisadores levantaram toda a base de registros de acidentes existente no Brasil, assim como suas causas e momentos de colisão, visando desenvolver um simulador veicular que contemplasse, além dos dados implementados, diversos cenários de perigo. Outra frente foi o desenvolvimento da interface homem-máquina para entender e implementar o modelo de interação mais adequado ao sistema. O software que integra a solução prevê três níveis de alerta diferentes com princípio visual, háptico e sonoro, que podem ser emitidos de acordo com o grau do risco detectado.
Finalizadas as etapas, foi o momento de se instalar o sistema integrado em um veículo da Stellantis. A partir disso, os pesquisadores iniciaram uma série de testes reais e virtuais, que geraram um grande volume de dados e resultados práticos e teóricos. “O projeto originou diversos estudos acadêmicos, além de preparar estudantes e pesquisadores para lidar com questões relacionadas à segurança veicular e, assim, contribuir para a diminuição da alta taxa de acidentes nas vias brasileiras”, afirma Faria.
Além dos componentes do radar utilizado no sistema, a Bosch contribuiu com dados sobre acidentes e prestou apoio técnico, com envolvimento do time de engenharia na integração do sensor ao veículo. “Sempre tivemos como um de nossos valores-chave o apoio à academia e a integração entre universidade e indústria como forma de promover a engenharia brasileira.
Acreditamos que a colaboração, o estabelecimento das parcerias, o conhecimento compartilhado entre as partes e a rede de contatos que se criou por meio de um objetivo comum é muito significativo para todos”, afirma Bruno Mori, gerente de produto para sistemas de assistência ao condutor da Bosch.
Avanços em inovação
O projeto representa um avanço tecnológico importante na área de segurança veicular ao desenvolver inovações que poderão ser aplicadas em novos projetos. “Já tínhamos no mercado veículos equipados com sensores capazes de detectar ameaças de colisão, mas não com a precisão que alcançamos. Apesar do nosso objetivo inicial ser detectar uma motocicleta posicionada no ponto cego do veículo, fomos além e desenvolvemos outras funcionalidades, como, por exemplo, a indicação de graus de vulnerabilidade para uma colisão. Isso é legal porque permite prever níveis de perigo diferentes a partir do alerta que é emitido”, explica o coordenador do projeto. Ele ressalta que o software que integra o simulador leva em consideração três normas de segurança ISO, o que facilita regulamentar a solução.
O projeto também inovou ao trazer a participação de uma instituição internacional ao programa Rota 2030. “Buscamos a expertise da THI, referência global em segurança veicular, e os pesquisadores da instituição ficaram tão encantados que acabaram se juntando ao projeto. Isso foi fantástico, porque propiciou uma diversidade de conhecimentos profissionais e acadêmicos em várias frentes. Por ser docente da Facens e do ITA, pude promover a correlação entre as duas instituições, trazendo o melhor de cada área técnica ao desenvolvimento da pesquisa. A experiência foi desafiadora, mas bastante enriquecedora”, relata Faria.
Resultados além do esperado
“Nossos resultados superaram as expectativas, conseguimos entregar muito mais do que estava previsto no início do projeto, como um nível de maturidade tecnológica (TRL) mais alto, uma interface homem-máquina e um sistema de simulação SW. O apoio e o fomento do Rota 2030 foram cruciais para o desenvolvimento desse projeto. Sem isso, não teríamos meios de buscar uma solução para esse problema tipicamente nacional, tampouco poderíamos formar mais de 20 profissionais para o mercado de trabalho nessa área tão carente de especialistas”, destaca Faria.
“Consideramos o tema de grande relevância, não apenas para o mercado automotivo, mas principalmente para a sociedade tendo em vista o grande número de acidentes com motocicletas no trânsito brasileiro”, afirma Mori. Segundo ele, a Bosch investe constantemente no desenvolvimento de sistemas de segurança e de assistência ao condutor que visam contribuir para uma mobilidade mais segura, confortável e livre de acidentes. A empresa pretende avaliar a solução desenvolvida para identificar possíveis diferenciais e verificar se já existe viabilidade técnica e comercial para sua implementação no mercado local.
Assista ao vídeo sobre o projeto:
SOBRE A LINHA V DO ROTA 2030
A Linha V – Biocombustíveis, Segurança Veicular e Propulsão Alternativa à Combustão tem como diretriz a eletrificação do powertrain veicular para a alta eficiência energética, a utilização de biocombustíveis para a geração de energia e a adequação do contexto brasileiro de infraestrutura de abastecimento.
A partir da aliança entre os principais atores que representam o conhecimento do setor (empresas, entidades representativas e Instituições de Ciência e Tecnologia – ICTs), serão habilitadas as competências necessárias para capacitar a cadeia automotiva.
A Fundep é a coordenadora da Linha V. A Coordenação técnica é da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), do Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana (FEI) e da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
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