Minas Gerais sediou o último Mob Talks de 2025, realizado na quinta-feira, 4 de dezembro, no Centro de Treinamento e Desenvolvimento da Indústria 4.0 do SENAI. A iniciativa integra a programação anual do Conecta Mais e percorre as seis regiões do país mapeadas pela Fundação de Apoio da UFMG (Fundep) como polos de ferramentarias. O Conecta Mais faz parte da Linha IV – Ferramentarias Brasileiras Mais Competitivas, coordenada pela Fundep no Programa Mover.
Em um ano de muitas transformações no Conecta Mais, a edição mineira marca um ciclo completo de alinhamentos estratégicos com o público da plataforma, apresentação de novas funcionalidades e escuta ativa de quem faz o dia a dia das ferramentarias do país.
Os mais de 60 participantes puderam aproveitar uma tarde de palestras, painéis e oportunidades de ampliar contatos profissionais. Além disso, foi uma chance de conhecer melhor os cursos do módulo de capacitação, recurso lançado no início deste ano e que trouxe mais recursos para a plataforma.
O agente de relacionamento do Conecta Mais em Minas Gerais, Rodrigo Baracho, destacou a relevância das discussões para o setor. “O Mob Talks Minas Gerais foi um evento muito proveitoso, com temas estratégicos que trouxeram insights relevantes para as ferramentarias do estado. Os depoimentos da Sodecia e da Maxion esclareceram requisitos de fornecimento e desafios diante da concorrência asiática. As explicações sobre capacitação do Senai completaram uma experiência valiosa de networking e fortalecimento do setor”, comenta.
Leia a matéria e saiba mais sobre a programação:
Mobilização em Minas
Mapeada desde o início do Programa Prioritário como uma região de interesse, Minas Gerais passa, em 2025, a receber um investimento mais consistente em relacionamento entre a Fundep, gestora da plataforma Conecta Mais, e as ferramentarias locais. A atuação ganha reforço com a presença de um profissional dedicado exclusivamente à mobilização na região.
O resultado disso é uma maior integração entre os atores do ecossistema de ferramentarias e reconhecimento do programa como um instrumento de transformação setorial. Desde o início da atuação do agente de relacionamento em Minas, em meados de junho, o número de jornadas de inovação abertas para beneficiar ferramentarias do estado passou de 4 para 50, no acumulado de novembro.
Para manter todos atualizados sobre o escopo do Programa Prioritário, representantes da Fundep detalharam os principais campos de atuação e avançaram na explicação das funcionalidades da plataforma Conecta Mais e de como ela pode apoiar as ferramentarias do estado.
Estratégia como prioridade
Dando continuidade à programação, Paulo Roberto, da Zorfatec, apresentou o tema Obtendo resultados através de um Roadmap Estratégico, com um case de sucesso. A proposta foi mostrar resultados alcançados com o uso do roadmap para incentivar as ferramentarias a adotarem a metodologia, destacando ganhos reais em produtividade, competitividade e inovação.
Se o Roadmap Estratégico mostrou como a clareza de direção orienta decisões, a Vitrine Tecnológica trouxe outro elemento do mesmo campo: planejamento baseado em dados. A apresentação sobre o Sistema de Gestão de Ferramentas destacou como a rastreabilidade e o controle do estoque permitem prever demandas, evitar desperdícios e tomar decisões de compra com mais precisão. O case da Ferramentaria Cortez demonstrou que essa organização pode gerar economia próxima de 200 mil reais em até dois anos.
A supervisora de Suprimentos da Ferramentaria Cortez, Bruna Rodrigues, explicou como esse tipo de gestão muda a rotina e melhora a previsibilidade. “Quando percebemos a otimização que a solução da Brametec traz, conseguimos revisar a previsão de compras, tanto no prazo quanto na quantidade. Quando implementamos o projeto, tínhamos 30 mil reais em ferramentas que não utilizávamos. Hoje usamos o que já está disponível, a partir de um levantamento, e só compramos o que é necessário”, conta.
Alexandre Machado, executivo de Vendas da Brametec, reforçou como a adoção dessa tecnologia se conecta à visão de longo prazo das empresas. “Investir nessa tecnologia é investir no futuro da indústria, garantindo competitividade e inovação contínua. A plataforma Conecta Mais ajuda de forma significativa e facilita o acesso. Temos uma grande oportunidade de utilizar esses recursos”, completa.
A palestra Fábrica Digital Integrada, apresentada por Ricardo Dick, gerente Comercial da Top Solid, encerrou o primeiro bloco com o tema CAD, CAM e PDM dentro da perspectiva da Indústria 4.0. Ele relembrou como os softwares eram antigamente, marcados por limitações e processos manuais, e mostrou a evolução da complexidade no desenvolvimento de produtos. A integração entre projeto, usinagem e gestão de dados foi apresentada como caminho para reduzir retrabalho, evitar falhas de conversão e garantir processos consistentes. Como reforçou Ricardo: “A repetibilidade faz melhorar processos, e é isso o que a gente busca para aumentar a competitividade do setor no Brasil”, afirma.
Soberania nacional e cadeia de fornecimento
A palestra O caminho do fornecedor: requisitos essenciais para atuar com montadoras e sistemistas trouxe a perspectiva de empresas que buscam ferramentarias fornecedoras a partir de critérios de seleção e desempenho. A Maxion, considerada uma empresa sistemista, destacou que competitividade, governança e confiabilidade técnica nacional têm peso crescente nas decisões, especialmente quando comparadas às operações asiáticas.
Flamarion Araújo, gerente de Manufatura e Ferramentaria da Maxion, explicou como o ritmo da indústria afeta a capacidade de adaptação. “Esse é um dos principais desafios, porque o prazo é curto e a decisão precisa ser rápida e precisa. Em outros mercados mundiais, o cronograma é mais amplo, com margem para garantir a entrega”, comenta.
A análise sobre priorização regional foi aprofundada por Erick Moreira, supervisor de Engenharia da Maxion. “Priorizamos fornecedores próximos, temos interesse no mercado mineiro e nacional, mas hoje ainda enviamos serviços para São Paulo e, em alguns casos, para fora do país”, explica.
Flamarion reforça que um dos grandes gargalos nacionais é ter menos espaço para novas ideias. “Precisamos atuar de forma unificada. Existem meios, e a rentabilidade está presente, mas o desafio é transformar isso em execução. É essencial convencer sobre o uso de tecnologia”, completa.
Segundo ele, o olhar estratégico vai além da peça. “Não adquirimos apenas um produto ou ferramenta. Buscamos uma solução completa. Assertividade e verificação por imagem são fundamentais. Governança, compliance e conformidade legal podem desqualificar até um fornecedor tecnicamente competente. Um pós-venda consistente e operação eficiente definem parcerias de longo prazo”, afirma.
A Sodecia trouxe uma visão global a partir da experiência direta com a Ásia. Roberth Marinho, Chief Product Engineer da empresa, relatou que 100% dos ferramentais da empresa passaram a ser produzidos no continente asiático desde 2022. Ele descreveu o processo com precisão: “Morei na China e acompanhei o desenvolvimento de ferramentas no país. Não se trata apenas de preço. Os prazos são mais curtos e do pedido ao primeiro evento, com protótipos definitivos, o ciclo leva de cinco a seis meses. A produção é concluída e o envio ocorre sem dificuldades”, conta.
Apesar da eficiência, ele destacou o valor do desenvolvimento local. “Sou do time brasileiro e, por mim, manteríamos a produção aqui, com oportunidade de aprendizado conjunto. Mas o benchmarking é decisivo no nosso setor. Poucos donos e gestores de ferramentarias foram à Ásia para entender como os processos são conduzidos. No Brasil, o transporte leva cerca de oito semanas, na China, a entrega ocorre antes.”, diagnostica.
Roberth também destacou as diferenças estruturais entre os mercados, observando que os orçamentos, a complexidade dos projetos e as condições de execução no Brasil ainda ficam distantes da realidade asiática. Ele ressaltou que a competitividade da região é influenciada por fatores como subsídios e apoio governamental, enquanto no Brasil os processos ainda enfrentam prazos mais longos e custos mais elevados. Nesse contexto, o Mover se torna um instrumento importante para reduzir parte dessas assimetrias, estimulando modernização e preparando a cadeia para disputar novos espaços. A avaliação final foi direta: acumular pontos positivos na matriz de decisão de sistemistas e montadoras é o que determina a escolha do fornecedor.
Sobre a Linha IV
A Linha IV – Ferramentarias Brasileiras Mais Competitivas tem como propósito superar os desafios enfrentados por ferramentarias com baixa produtividade e defasagem tecnológica. O foco é capacitar a cadeia de ferramentais de produtos automotivos, visando alcançar competitividade em nível global.
Alinhada ao compromisso de neoindustrialização, centrada na inovação, a frente de atuação concentra suas iniciativas na otimização de prazo, custo e qualidade ao longo das diferentes fases do ciclo de vida de produção de ferramentais. Dessa forma, busca-se capacitar as ferramentarias brasileiras não apenas para atender à demanda nacional na fabricação de veículos, mas também para conquistar uma posição destacada no mercado global.
Liderada pela Fundep, a Linha IV tem coordenação técnica do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).

























