O aumento da conscientização sobre as mudanças climáticas tem acelerado a substituição dos veículos com motores a combustão por veículos elétricos (VEs). No final de 2020, mais de 10 milhões de carros elétricos circulavam pelo mundo, impulsionando também o mercado de ônibus e caminhões elétricos. Contudo, essa expansão acelerada esbarra em um desafio: a infraestrutura de recarga rápida. Embora o Brasil apresente um crescimento considerável no mercado de VEs, ainda enfrenta uma lacuna significativa nessa área, especialmente em regiões fora dos grandes centros urbanos.
Nesse contexto, surge o projeto “Sistema modular e reconfigurável para recarga rápida de veículos elétricos”, coordenado pelo professor Cassiano Rech, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A iniciativa faz parte da Linha V – Biocombustíveis, Segurança e Propulsão Veicular, do programa Mover (Mobilidade Verde e Inovação), liderada pela Fundação de Apoio da UFMG (Fundep).
O projeto desenvolve uma estação de recarga rápida modular e reconfigurável que será capaz de integrar sistemas de armazenamento de energia (baterias) e sistemas fotovoltaicos, possibilitando recarregar veículos elétricos de maneira eficiente e com menor impacto na rede elétrica. O aporte total da Fundep é de R$ 1 milhão, com R$ 1,2 milhão em contrapartidas. O prazo de execução é de 36 meses.
Objetivos
O principal objetivo é desenvolver uma estação de recarga modular que atenda a diferentes demandas de usuários, permitindo flexibilidade no número e na potência dos pontos de recarga. “Esperamos desenvolver uma estação de recarga rápida para instalação especialmente em rodovias afastadas dos centros urbanos. Dessa forma, a energia pode ser parcialmente suprida pelo sistema de armazenamento e pela geração própria de energia fotovoltaica”, explica Rech.
A modularidade e a reconfigurabilidade da estação permitem sua fácil adaptação a diferentes cenários de uso, viabilizando a inserção de novos módulos de potência para aumentar a capacidade de recarga ou o ajuste do número de pontos disponíveis. Isso visa tornar a infraestrutura de recarga mais acessível em todo o território nacional, no qual as distâncias são grandes e a rede elétrica, muitas vezes, é insuficiente para suportar cargas elevadas de estações de recarga rápida.
Além disso, a pesquisa prevê a integração da estação de recarga com sistemas fotovoltaicos, permitindo que parte da energia necessária seja gerada localmente. Isso minimiza o impacto na rede elétrica durante os momentos de maior demanda, o que é especialmente relevante para áreas nas quais a infraestrutura elétrica é limitada.
Desafios
O Brasil tem experimentado um crescimento significativo no número de veículos elétricos, com VEs e híbridos representando mais de 7% dos licenciamentos de automóveis e comerciais leves. Entretanto, a infraestrutura de recarga rápida não acompanha esse avanço. Mais ainda, a maior parte das estações de recarga rápida instaladas no Brasil provém de empresas multinacionais, com desenvolvimento fora do país. “É imprescindível firmar parcerias com empresas locais para desenvolver essa tecnologia aqui no Brasil”, destaca Rech. Nesse sentido, o projeto visa também fortalecer a capacidade tecnológica nacional, promovendo o desenvolvimento de soluções locais em colaboração com empresas brasileiras, como a Supplier Indústria e Comércio de Eletroeletrônicos.
Empresas parceiras
A Supplier, parceira na iniciativa, desempenha papel central no desenvolvimento dos componentes eletrônicos necessários para a estação de recarga. O diretor da empresa, Marcello Mezaroba, reforça a importância da parceria com as Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) para viabilizar o desenvolvimento de tecnologias no Brasil.
“Muitas vezes, os custos de desenvolvimento são altos demais para empresas nacionais, especialmente as de pequeno porte. O fomento à pesquisa por meio dessas colaborações possibilita a nacionalização de equipamentos e reduz a dependência de produtos importados”, explica Mezaroba. Ele destaca ainda que, além do desenvolvimento tecnológico, o projeto contribui para a formação de mão de obra especializada, preparando o Brasil para o futuro da mobilidade elétrica.
Expectativas
Em fase avançada, o projeto objetiva entregar uma estação de recarga rápida nacional que possa ser escalada e adaptada conforme a demanda do mercado. As expectativas incluem, também, o desenvolvimento de linhas de produção locais e a possibilidade de operação autônoma da estação em caso de falhas no fornecimento de energia elétrica, garantindo a recarga de veículos em locais mais remotos. Além disso, a integração com sistemas de armazenamento e geração de energia fotovoltaica será crucial para reduzir o impacto das recargas na infraestrutura elétrica.
Em termos de impacto, o projeto não apenas visa ampliar a infraestrutura de recarga de VEs no Brasil, mas também impulsionar a indústria nacional. “Existe uma enorme expectativa pela continuidade dos projetos, com fomento que viabilize a maturidade tecnológica e a inserção dessas soluções no mercado”, completa Mezaroba. Para isso, o apoio contínuo ao desenvolvimento de linhas de produção e a certificação dos produtos são considerados passos essenciais para consolidar o setor de mobilidade elétrica no Brasil.
Sobre a Linha V – Biocombustíveis, Segurança e Propulsão Veicular
A Linha V – Biocombustíveis, Segurança e Propulsão Veicular, do Programa Mover, tem como diretriz a eletrificação do powertrain veicular para a alta eficiência energética, a utilização de biocombustíveis para a geração de energia e a adequação do contexto brasileiro de infraestrutura de abastecimento.A partir da aliança entre os principais atores que representam o conhecimento do setor (empresas, entidades representativas e Instituições de Ciência e Tecnologia – ICTs), serão habilitadas as competências necessárias para capacitar a cadeia automotiva.
Liderada pela Fundep, A Linha V tem coordenação técnica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), do Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana (FEI) e da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
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