Programa Mover: Enacoop promove integração entre coordenadoras e ecossistema automotivo

Categoria: Eventos, Mover

Em um cenário nacional cada vez mais desafiador, em meio a medidas externas que impactam diretamente a indústria e economia nacional, a edição de 2025 do Encontro Nacional das Coordenadoras dos Programas Prioritários do Mover (Enacoop) reuniu mais de 250 pessoas na sede da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina  (FIESC) para pensar o presente e futuro do setor automotivo.  

A organização do evento ficou a encargo da Fundep, SENAI, Finep, EMBRAPII e BNDES, em parceria com a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), Associação Brasileira da Indústria de Autopeças (Abipeças) o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) e a FIESC.  

A programação foi pensada para promover o compartilhamento de experiências e soluções capazes de impulsionar a inovação e acelerar o avanço tecnológico no setor automotivo. Além disso, foi uma oportunidade de aproximar as iniciativas de PD&I aos objetivos e diretrizes do Governo Federal e da cadeia automotiva.

Na abertura, o destaque foi a fala da diretora do Departamento de Desenvolvimento da Indústria de Alta-Média Complexidade Tecnológica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Margarete Gandini. Ela apresentou um panorama dos resultados já alcançados, destacando que, no ciclo 2019-2024, foram arrecadados mais de R$ 1,8 bilhão, com 580 projetos aprovados e sete projetos estruturantes envolvendo mais de 500 empresas.  

A diretora lembrou que cada programa conta com um conselho consultivo formado por representantes do governo e da iniciativa privada, o que garante o acompanhamento contínuo e  a diversidade de visões na tomada de decisões. 

Margarete Gandini, do MDIC

O Rota foi o início da trajetória. Agora, no Mover, precisamos aprimorar o aprendizado, utilizar os recursos de forma otimizada e gerar resultados para toda a cadeia. Essa é a responsabilidade de todos nós que estamos envolvidos com os programas.

Margarete Gandini, do MDIC

Ela reforçou que uma governança democrática, com participação da academia, setor produtivo, empresas, trabalhadores e governo, é essencial para que os recursos retornem em desenvolvimento e inovação. Para a diretora, a competitividade do setor automotivo brasileiro depende de ir além do óbvio: “Fazer mais do mesmo não nos tornará competitivos no contexto global.

Os pontos apresentados por Margarete Gandini foram reforçados por representantes de entidades do setor automotivo. O diretor de Inovação do Sindipeças, Maurício Muramotto, destacou que, para que a indústria nacional alcance um novo patamar, é necessário ao menos dobrar o investimento em PD&I, chegando a 2,5% do PIB.

Ao mencionar os resultados do 1º Ciclo de atividades do Rota 2030/ Mover, o diretor de manufatura da AEA, Carlos Sakuramoto, relembrou o processo de criação do capítulo do Mover que compreende os programas prioritários. Segundo ele, foram mais de 100 reuniões realizadas em Brasília, com a criação de sete grupos de trabalho.

Sakuramoto apresentou a revista “Impacto, Inovação & Sustentabilidade no Setor Automotivo”, organizada pela equipe da Fundep, reforçando que a expectativa é de que a publicação de balanço do 2º Ciclo traga ainda mais resultados a serem apresentados.

Construindo o futuro do Mover

Como parte da programação do primeiro dia de atividades do Enacoop, a gerente de Programas da Fundep, Ana Eliza Braga, integrou o painel “Perspectivas para o 2° Ciclo do Mover”. A discussão também contou com a participação de representantes do SENAI, EMBRAPII, Finep e BNDES, com mediação do diretor de inovação do Sindipeças, Maurício Muramotto.  

O painel foi dividido em três momentos: o que foi bom no último ciclo, os aprendizados obtidos e as perspectivas para os próximos anos. Ao relembrar projetos que ganharam destaque, pelos seus resultados e permeabilidade no setor automotivo industrial, Ana Eliza lembrou de três iniciativas, uma ligada a cada um dos programas prioritários coordenados pela Fundep. 

O primeiro deles, o projeto de Demonstradores, executado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e pela Fundação Getulio Vargas (FGV), foi elencado pela gerente como um marco simbólico do 1º Ciclo. “Esse projeto envolveu muitas incertezas e uma surpreendente quantidade de empresas participantes, por volta de 30. O Demonstradores nos apontou a importância do esforço colaborativo para atingimento de bons resultados”, relembra. Ana Eliza reforça que essa acabou tornando-se uma característica da Linha IV – Ferramentarias Brasileiras Mais Competitivas, que trabalha para promover impacto setorial e precisa atingir grande representatividade em suas alianças industriais. 

Representando a Linha V – Biocombustíveis, Segurança e Propulsão Veicular, a gerente de Programas da Fundep destacou o papel do “Berço ao Portão”, projeto que surge a partir de uma modalidade de edital criado pela fundação de apoio, a partir de alinhamentos com o MDIC. A Chamada Pública de Encomenda Tecnológica permitiu que o Programa Prioritário pudesse atender à demanda levantada pelas montadoras e pelo Governo Federal.  

Um dos objetivos da iniciativa, executada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é quantificar os impactos das mudanças climáticas desde a extração da matéria-prima até a fabricação dos veículos. “Essa é uma vertente de atuação que nos ajuda a compreender nossa pegada de carbono e, consequentemente, identificar quais intervenções têm potencial para ser mais eficazes”, afirma Ana Eliza. 

Na Linha VI – Conectividade Veicular, Ana Eliza Braga apresentou uma das frentes do programa prioritário, o projeto de Aprendizado Federado, executado pela UFMG. A iniciativa tem potencial para viabilizar experiências cada vez mais personalizadas, a partir dos padrões de uso dos motoristas, preservando os dados dos usuários e empresas, a partir de modelos de aprendizagem de máquina. “Estamos falando de uma linha que se dedica a pensar a conectividade a partir da interação com a cidade. O processamento dos dados feito desta forma permite que todos possam se valer de modelos mais complexos e que contemplem o perfil do usuário brasileiro”, comenta.  

Um dos aprendizados elencados pela gerente de Programas da Fundep, Ana Eliza Braga, é a importância da proximidade com associações representativas do setor. “É fundamental dar relevância a essas entidades, que reúnem as demandas mais significativas da indústria. Para nós, elas são uma referência, pois a partir dessas demandas podemos identificar soluções relevantes e estratégicas para o desenvolvimento do setor”, explicou, destacando o potencial das chamadas para projetos estruturantes. 

Ana Eliza diz que, no segundo ciclo do Mover, a estratégia continua focada no fortalecimento do eixo de PD&I e formação, incorporando agora aspectos ligados à economia circular, alinhados às novas diretrizes da legislação do programa. “A partir do portfólio de projetos reunidos no primeiro ciclo, nossa ideia é elevar o nível de complexidade e impulsioná-los para que estejam cada vez mais próximos da indústria, facilitando a transferência das soluções tecnológicas”, afirmou. Ela ainda adiantou que, em breve, serão lançadas chamadas de impulsionamento tecnológico, com esse objetivo.  

Aproximação entre academia e indústria

A Fundep também ficou responsável pela mediação do painel “A contribuição do Programa Mover na conexão entre a academia e a indústria”, conduzido pela gerente de Programas Ana Eliza Braga.  

O pró-reitor de Pesquisa e Inovação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Jacques Mick, abriu a discussão ressaltando que o Mover é uma demonstração de que as universidades públicas são capazes de atender a esse tipo de demanda. Ele reforça que é preciso trabalhar as dinâmicas internas para que a conexão entre a academia e a indústria seja cada vez mais forte e valorizada.  

Jacques Mick, pró-reitor de Pesquisa e Inovação da UFSC

É preciso reduzir burocracias para ganhar eficiência e, ao mesmo tempo, promover a multidisciplinaridade, estimulando a criação de grandes projetos que conectem iniciativas específicas a missões de pesquisa mais amplas, além de incentivar o compartilhamento de recursos para ampliar as oportunidades e otimizar o uso dos investimentos em ciência e tecnologia no Brasil.

Jacques Mick, pró-reitor de Pesquisa e Inovação da UFSC

Mick também destacou que a aproximação entre universidades públicas e setor produtivo tem uma dimensão estratégica para o país. “Durante muito anos, observamos ataques à universidade pública e a força da indústria nacional. Isso não é por acaso: é um programa político que enxerga o futuro do Brasil como uma espécie de fazenda para o mundo. Sei que esse não é o programa da universidade nem da indústria, e acredito que podemos trabalhar juntos nessa frente de divulgação do que fazemos, para que mais pessoas defendam a universidade pública e a indústria nacional”, afirmou. 

A coordenadora técnica da Linha IV do Mover, Ana Paola Villava, que também atua no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), comentou sobre os desafios iniciais do Programa Prioritário para aproximar academia e indústria, especialmente pelo clima de competição entre as empresas do setor. “A gente teve que ter muita coragem. Nos primeiros editais já começamos a exigir bastante participação das empresas. Era preciso pelo menos duas montadoras, além das ferramentarias. Levamos exemplos de outros lugares, tivemos que impor o modelo, condicionando a colaboração à participação na iniciativa. No início fomos aprendendo como apoiar e, hoje, conseguimos fazer isso muito bem, como por exemplo, por meio da Plataforma Conecta Mais”, relatou.

Ana Paola também deu destaque ao case do projeto de Nitretação a Plasma, uma pesquisa de alta relevância estratégica, executada pela UFSC, e exemplo bem-sucedido de integração entre academia e indústria. Ela lembrou que o contrato foi firmado no fim do ano, período em que, tradicionalmente, as atividades costumam desacelerar. “Foi impactante para nós ver que o projeto foi tratado com seriedade dentro da universidade e que, com organização e apoio de todas as partes, o contrato foi concluído de forma muito rápida. O projeto vem apresentando resultados excelentes, e estamos muito satisfeitos”, afirmou.  

O caso também foi mencionado pelo diretor de Manufatura da AEA, Carlos Sakuramoto, que ressaltou a origem da iniciativa: um problema setorial que ameaçava a própria sobrevivência da indústria no país. “Uma montadora solicitou o Ex-Tarifário para aprovar a importação de toda a carroceria sem taxas, alegando que não havia capacidade nacional para fornecer ferramental com nitretação a plasma. Conseguimos elaborar um plano de ação e concluir a contratação em tempo hábil, garantindo a justificativa de que o país já contava com um projeto voltado para essa técnica”, explicou. 

O professor do ITA e coordenador de projeto da Linha IV, Anderson Borille, apontou que a articulação entre empresas concorrentes em prol de um objetivo comum é um dos grandes diferenciais do Mover. “Talvez o maior desafio seja manter a chama acesa. Nos primeiros projetos da Linha IV, foram 26 parceiros concorrentes trabalhando juntos. Não adianta competir internamente, porque a competição internacional é muito mais expressiva. O que precisamos é fazer com que todos cresçam, para sermos melhores que os concorrentes lá fora. Para isso, é essencial criar espaços para discutir e amadurecer ideias, além de ter um portfólio de projetos alinhado com as demandas setoriais”, defendeu. 

O PROGRAMA MOVER

O programa Mover (Mobilidade Verde e Inovação) é uma iniciativa do Governo Federal, por meio do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), que visa ampliar as exigências de sustentabilidade na frota automotiva, além de impulsionar o desenvolvimento de novas tecnologias nas áreas de mobilidade e logística. 

SOBRE OS PROGRAMAS PRIORITÁRIOS

O Mover reduz o Imposto de Importação para fabricantes que importam peças e componentes sem similar nacional, desde que invistam 2% do total importado em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação em “Programas Prioritários” na cadeia de fornecedores.   

As coordenadoras revertem os recursos aplicados pelas empresas contribuintes em iniciativas de desenvolvimento tecnológico e inovação para a cadeia automotiva. Os objetivos das iniciativas estão alinhados ao compromisso de promover o setor automotivo, por meio do desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias mais sustentáveis e com foco na neoindustrialização e ampliação do nível de nacionalização do veículo.

Conheça os programas prioritários:

  • SENAI  

Alavancagem de Alianças para o setor Automotivo veicular  

  • Embrapii  

P&D para a Cadeia de Fornecedores de Mobilidade e Logística  

  • Finep  

Finep 2030  

  • Fundep  

Linha IV – Ferramentarias Brasileiras Mais Competitivas  

Linha V – Biocombustíveis, Segurança e Propulsão Veicular  

Linha VI – Conectividade Veicular  

  • BNDES  

Estímulo à descarbonização da mobilidade e da logística 

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