O processo de descarbonização e a popularização da mobilidade elétrica estão intrinsecamente ligados ao avanço de uma infraestrutura básica, que permita aos usuários ter acesso a baterias de qualidade e a estações de recarga em pontos estratégicos das rodovias brasileiras. Apesar da clareza sobre o que é necessário para que a mobilidade verde avance no país, os desafios mapeados esbarram em alguns impasses de cunho econômico, tecnológico e de atribuição de responsabilidades.
Em um cenário de desigualdades, o Brasil ainda direciona esforços para avançar em temas muito básicos quando o assunto é infraestrutura, como explica o professor e pesquisador da Universidade de Campinas (Unicamp), Hudson Zanin. “Nosso país tem tantos problemas na periferia, tanta falta de saneamento, que não é certo que o estado pague pelo avanço da infraestrutura necessária para a mobilidade elétrica. Como faremos para que a iniciativa privada e os usuários dos veículos possam arcar com o custo, quem paga essa conta?”, pergunta.
Zanin ressalta que, além das questões financeiras, o Brasil enfrenta o desafio de modernizar suas rodovias para permitir um sistema eficiente de recarga rápida. Para o pesquisador, é preciso criar uma nova subestação ou integrar baterias de segunda vida ao sistema de recarga.
Quem reforça o ponto levantado pelo professor da Unicamp é o pesquisador da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Cassiano Rech, que exemplifica a questão. “Santa Maria recebeu o primeiro posto de recarga rápida do Rio Grande do Sul e, hoje, as duas estações que temos estão sempre lotadas. É um crescimento avassalador, sem um modelo de negócios claro para sustentar essa infraestrutura a longo prazo, já que essas estações estão sendo financiadas por projetos de pesquisa e oferecidas gratuitamente à população”, conta.
Soluções internacionais e análise do ciclo de vida
O mercado nacional já está de olho em modelos adotados em outros países, como é o caso do swop de baterias, utilizado na China. Nele, as baterias são trocadas em estações e o tempo de espera pela recarga é eliminado. Os pesquisadores reforçam que, apesar de bastante disruptivo, o sistema pode ser implementado a partir da criação de um modelo de negócio que atenda as especificidades e necessidades do setor, garantindo sua viabilidade e eficiência.
Além de pensar o sistema de carregamento, os especialistas reforçam que é preciso criar soluções para a reciclagem e reutilização de baterias. O programa Mover (Mobilidade Verde e Inovação) prevê uma medição conhecida como “do berço ao túmulo”, que valerá a partir de 2027. Com isso, a eficiência dos veículos será analisada com base na reciclabilidade dos componentes, incluindo as baterias, para garantir que o ciclo de vida completo do componente seja sustentável.
Zanin explica que esse é um grande desafio. “Enfrentamos desafios na reutilização de baterias, pois elas podem apresentar diferentes condições, tornando complexo identificar quais ainda são funcionais. Muitas vezes, a reciclagem direta se mostra mais viável do que a reutilização. Dessa forma, é importante considerar não apenas o custo por quilowatt-hora, mas também o custo por ciclo de vida da bateria. Se uma bateria cicla mil vezes e outra 4 mil vezes, mesmo que a segunda seja mais cara, ela se torna mais barata a longo prazo”, explica.
Projeto cria Centro multiusuário de manufatura, validação e certificação de baterias
A Linha V – Biocombustíveis, Segurança e Propulsão Veicular, do programa Mover, tem iniciativas com foco no desenvolvimento de baterias elétricas mais duradouras, eficientes e ecológicas. Um exemplo é o projeto “Centro multiusuário de manufatura, validação e certificação de baterias”, executado pela Unicamp, em parcerias com empresas da cadeia automotiva, que propõe a impulsionar a pesquisa, a inovação tecnológica e o know-how para a produção de células individuais de baterias de Lítio e Sódio, contribuindo para aprimorar o ecossistema da mobilidade elétrica no Brasil.
De acordo com o coordenador da iniciativa e professor da Unicamp, Hudson Zanin, o objetivo é criar tecnologias avançadas para a produção de baterias de alta capacidade confiáveis e formar mão de obra especializada para atuar nesse campo. “O projeto é altamente relevante para o setor automotivo e para os Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) participantes, pois contribui para o desenvolvimento da inovação da indústria de baterias avançadas no Brasil, elevando sua competitividade e reduzindo incertezas em relação a esse mercado”, afirma.
O projeto receberá R$ 9 milhões em aportes da Fundep, por meio do programa Mover, ao longo de 36 meses.
Sobre a Linha V – Biocombustíveis, Segurança e Propulsão Veicular
A Linha V – Biocombustíveis, Segurança e Propulsão Veicular, do Programa Mover, tem como diretriz a eletrificação do powertrain veicular para a alta eficiência energética, a utilização de biocombustíveis para a geração de energia e a adequação do contexto brasileiro de infraestrutura de abastecimento.A partir da aliança entre os principais atores que representam o conhecimento do setor (empresas, entidades representativas e Instituições de Ciência e Tecnologia – ICTs), serão habilitadas as competências necessárias para capacitar a cadeia automotiva.
Liderada pela Fundep, A Linha V tem coordenação técnica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), do Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana (FEI) e da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
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