A aliança entre três projetos da Linha IV- Ferramentarias Brasileiras Mais Competitivas, do Rota 2030, coordenada pela Fundação de Apoio da UFMG (Fundep), vem possibilitando o diagnóstico de competitividade, a identificação de gargalos e a criação de soluções que resultam em maior produtividade e qualidade no processo de usinagem.
Os projetos Demonstrador de Estampagem de Superfícies Classe A (DEMESTAA) e o Demonstrador de Estampagem de Painel Estrutural – Coluna B (DECOLAB), coordenados pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), respectivamente, desenvolvem demonstradores do processo de estampagem automotiva. Já o MISCAE, também conduzido pelo ITA, tem como foco a virtualização do processo de modelagem, utilizando os demonstradores para identificação de defeitos tanto nas superfícies quanto nas estruturas estampadas.
Ao todo, os projetos possuem a participação 20 empresas (ferramentarias, montadoras e fornecedores de soluções) e três Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT´s). A organização dos projetos esteve separada em uma jornada que envolveu o diagnóstico de competitividade e a construção de demonstradores, que resultou em pesquisas de virtualização, simulação e usinagem.
De acordo com a coordenadora-geral do DEMESTAA, Emília Villani, do ITA, o objetivo da aliança é realizar o ciclo completo de planejamento, projeto e construção do ferramental. Dessa forma, é possível mapear processos, identificar problemas técnicos, metodológicos e organizacionais, diagnosticar e pontuar os principais fatores competitivos. “A ideia é que os resultados sirvam como referência para aferir ganhos obtidos por meio de trabalhos realizados no âmbito da Linha IV do Programa Rota 2030, assim como para realização de benchmarkings internacionais nas áreas de gestão, processos, tecnologias e RH”, afirma.
Um segundo objetivo é criar um ecossistema de integração setorial, com participação de empresas de diferentes etapas da cadeia automotiva, para discussão e inovação contínua do setor. A terceira meta é modelar e identificar defeitos por meio do uso dos demonstradores, permitindo identificar o gap entre a simulação e a vida real no processo de construção dos produtos.
O coordenador-geral do DECOLAB, Luiz Carlos Di Serio, da FGV, avalia que a parceria possibilitou que as equipes das ICTs atuassem em duas diferentes frentes: a construção dos demonstradores e a análise da competitividade das ferramentarias, com base no prazo, na qualidade, nos custos e nas tecnologias empregadas. “Criamos alguns indicadores de performance e desempenho para apontar o que precisa ser feito pelas empresas para tornar nosso mercado de ferramentaria mais competitivo. Também buscamos incentivar a inovação e o investimento em novas tecnologias”.
A integração entre ferramentarias e montadoras em um ambiente único tem sido um grande ganho do trabalho, na opinião de Di Serio. “Representantes das ferramentarias e das montadoras se uniram, sob a mediação das universidades, para discutir e apontar soluções para as questões levantadas nos projetos, além das demandas das próprias empresas. Esses debates resultaram inclusive em subprodutos de pesquisas, levantamento de processos e documentações sobre as melhorias de processos”. Emília Villani destaca o ambiente de neutralidade, com as empresas interagindo de maneira colaborativa: “há parceria e não uma relação de cliente-fornecedor, contratante-contratado ou, simplesmente, de competidores. Isso permitiu enxergar que os problemas de uma são comuns às demais”.
DIAGNÓSTICO DE COMPETIVIDADE
O Diagnóstico Competitivo do Processo, conduzido pela FGV, teve como objetivo realizar uma análise de competitividade das ferramentarias nacionais. Conduzido em três fases, contou com a participação de outros agentes da cadeia de suprimentos automotiva, entre eles montadoras, empresas fornecedoras de serviços especializados de engenharia, serviços de tecnologia da informação e gestão, serviços de fundição e usinagem e fornecedores de aço.
Na Fase 1, o diagnóstico focou nos desafios da cadeia como um todo, analisando sete forças competitivas. Nessa etapa, considerou as seguintes dimensões: ameaça de produtos substitutos; poder de barganha dos clientes; poder de barganha dos fornecedores; potenciais entrantes; rivalidade entre empresas existentes; globalização; e inovação.
Já as Fases 2 e 3, buscaram analisar a competitividade avaliando, respectivamente, as ferramentarias sob a ótica dos clientes e das próprias empresas. Na Fase 2, treze atributos dos produtos e serviços prestados pelas ferramentarias foram avaliados na percepção dos clientes (montadoras), previamente identificados a partir de entrevistas com representantes da indústria. A Fase 3 levantou a percepção das próprias ferramentarias participantes sobre três aspectos: prioridades competitivas (custos, qualidade, flexibilidade, velocidade e confiabilidade); percepção de desempenho; e gestão dos processos associados às cadeias produtivas e de suprimentos.
CONSTRUÇÃO DE DEMONSTRADORES – MODELAGEM E USINAGEM
O ITA conduziu a fase de construção dos demonstradores de estampagem de superfícies automotivas classe “A” e de painéis estruturais (Coluna B). Todo percurso de construção foi mapeado visando identificar gargalos tecnológicos, metodológicos e organizacionais, difundindo de forma sistemática e estruturada o conhecimento multidisciplinar relativo ao processo entre o setor de ferramentarias e sua cadeia de fornecimento.
A parte de modelagem teve como meta a melhoria de qualidade de ferramentais para o setor automotivo (zero defeito em peças conformadas) e a redução de custos e tempo de testes e correções nas ferramentas, por meio da simulação do ferramental e da peça. Houve também a introdução de novas formas de avaliação da qualidade de superfícies e da virtualização das peças fabricadas.
Todo processo de construção do ferramental teve como foco custo, prazo e qualidade.
MELHORIA DE PROCESSOS E DE GESTÃO
Cerca de 20 empresas participam dos três projetos de forma integrada. Entre elas está a Ferramentaria Gaspec, especializada na elaboração de desenhos e construção de ferramentas de corte, dobra e repuxo, progressivas e dispositivos de controle para grandes montadoras. Segundo o diretor Industrial, Marcelo Tomazetti, a iniciativa gerou uma oportunidade de aproximação com os ICTs e proporcionou melhorias tanto nas etapas de produção industriais quanto nos processos de gestão da empresa. “As equipes dos projetos nos apresentaram um fluxograma com todos os nossos processos de engenharia e usinagem. Fizemos algumas adaptações e colocamos o sistema em prática em nosso parque industrial”, relata.
Tomazetti pontua que a dificuldade de planejamento, a falta de controle e de estimativa de custos dentro dos processos de usinagem estão entre os problemas apontados pela empresa às equipes dos ICTs. “Havia uma dificuldade na mensuração dos custos de um estampo, por exemplo. Orçávamos cem horas para fazer um componente e, no final, gastávamos bem mais e apontávamos menos. Quando íamos fazer o fechamento disso, tínhamos um deságio enorme”. Ele esclarece que, atualmente, o orçamento deve estar alinhado à produção e, se houve a identificação de horas a mais de produção além do que foi apontado, o motivo deve ser identificado para que uma solução seja proposta.
Ainda de acordo com Tomazetti, o Rota 2030 propiciou a visão sobre a importância da busca por inovação e desenvolvimento tecnológico, do investimento em pesquisa para melhoria de processo e qualidade. “Agora, temos uma metodologia de processos mais robusta e um mapeamento amplo do nosso fluxo industrial, antes bastante difuso. Com isso, estamos visando a uma expansão da nossa visibilidade no mercado. Além disso, ao associar nossa empresa ao Rota 2030, ganhamos em credibilidade, pois isso demonstra nossa intenção em buscar melhorias e um posicionamento mais estratégico no setor”.
APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS E LIÇÕES APRENDIDAS
No dia 6 de junho foi organizado pelo ITA, em São José dos Campos-SP, o último de cincos workshops entre representantes da comunidade acadêmica, montadoras de veículos e ferramentarias para compartilhar as ações, perspectivas, cases e oportunidades de atuação para melhorar a competitividade do setor automotivo.
A abertura do evento teve a participação de Ana Eliza Braga – gerente de Gestão de Programas da Fundep. De acordo com ela, a aliança dos projetos é um grande case do Rota 2030 e que vem servindo de exemplo para muitas outras iniciativas. “É uma grande satisfação para a Fundep conferir como os resultados gerados por meio da ação colaborativa entre diversos atores da cadeia automotiva”, destacou.
Ainda segundo Ana Eliza, a Fundep já viabilizou a renovação dos projetos para uma próxima etapa de desenvolvimento e inovação para o setor ferramental.
DEMONSTRADORES 2.0
Com o encerramento dos projetos de demonstradores, começará uma segunda fase das inciativas para continuidade do diagnóstico competitivo, discussão em comissões e desenvolvimento dos demonstradores.
De acordo com Carlos Sakuramoto, diretor de manufatura da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) e membro do Conselho Técnico da Linha IV do Rota 2030, muitos resultados já foram obtidos e agora é preciso focar nos próximos passos. “Muitos resultados positivos foram alcançados durante a execução dos projetos. Temos como ponto forte a união entre empresas e ICT´s, mas este é só o começo de uma caminhada. Temos uma missão fundamental de recuperar o setor ferramental. Enquanto não tivermos competitividade em custo, prazo e qualidade não vamos alcançar nossos objetivos. Temos 26 montadoras no Brasil e se todas colocarem a demanda de estampagem no país, o setor não tem como fornecer. As empresas devem deixar de pensar que estão numa competição individual e encontrar complementaridades estratégicas para fortalecer a união. A maior concorrência das ferramentarias não está no Brasil”.
PARTICIPANTES DOS PROJETOS
ICT´s:
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA); Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (Fatec).
Empresas:
FCA Fiat Chrysler Automoveis Brasil; Ford Motor Company Brasil; General Motors do Brasil Ltda; Nissan; Renault do Brasil; Toyota; Ferramentaria Gaspec; Aethra; Autaza; BR Matozinhos; CSN; ESI; FHS Ferramentaria; Metalúrgica Futuro; Gestamp; Injetaq; NCAM; Siemens; 6Pro; TRDI; VirtualCAE.
SOBRE A LINHA IV DO ROTA 2030
A Indústria Brasileira de Ferramentais é considerada estratégica e essencial para o setor automotivo. Nos últimos anos, as ferramentarias brasileiras vêm perdendo mercado para os concorrentes asiáticos, que competem com alta capacidade instalada e menores prazos de produção. A Linha IV do Programa Rota 2030 – Ferramentarias Brasileiras Mais Competitivas, coordenada pela Fundação de Apoio da UFMG (Fundep), tem por objetivo solucionar as dificuldades da cadeia de ferramental de produtos automotivos e capacitar as empresas para que se tornem mais competitivas em nível mundial.
A coordenação técnica é do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
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